quinta-feira, junho 21, 2007

Gerald Garcia - Brazilian Portrait


Sim, eu sei. Não, não precisam me dizer. Pois é, têm razão em reclamar. Meus diletos amigos, bem sabem que ando um tanto quanto lacônico e extremamente ausente, mas digo-vos: há uma razão. O fato é que o trabalho nesse fim de semestre me parece interminável: pilhas de provas e trabalhos por corrigir, incontáveis folhas por escrever, diários por analisar, relatórios por escrever, enfim, bem sabem como é. Também sei que aqui não é lugar para eu lhes explicar isso, mas ... bem! Dada a incúria para com esse nosso estimado espaço, creio que eu lhes deva uma explicação.

Eis que hoje vos trago um álbum que, certamente, agradará a muitos. Não tanto pelo violonista, creio, mas sim pelo repertório executado. Como bem vislumbraram, trata-se de um verdadeiro “retrato brasileiro”. Villa Lobos, Laurindo Almeida, Baden Powell e até, vejam só, Luís Bonfá. Hão de acordar que são verdadeiros mestres da nossa música popular. Principalmente, o compositor das 3ª e 4ª faixas: o egrégio Antônio Carlos Jobim. E poderiam perguntar, com uma razão incontestável: “então, trata-se de uma releitura do Brasil? Bom! E o violonista, por suposto, é brasileiro!”. Enganam-se os que assim pensam.

Gerald Garcia provém, acreditem ou não, de Hong Kong. Sim, daquela ilha lá na Ásia, do outro lado do globo. Vejam a força e a gravidade da MPB. Mas nisso creram, certamente. Pois o fato mais espantoso é que Garcia graduou-se, na mais do que prestigiada e conceituada Universidade de Oxford, em Química. Pois vejam, em química. Não que os químicos não tenham o direito de tornarem-se bons músicos, mas a música é, ao mínimo, uma área bem distante da química. Em todo caso, digo-vos isso pois não quero que repitam o mesmo erro que eu, há alguns anos, quando ainda não conhecia esse violonista. Sabem como é o ser humano. Detesta admitir que não sabe algo, com medo de isso denotar algum tipo de incultura. E eis que me perguntam: “conheces Gerald Garcia?”. E o “franco” ser aqui responde: “Ò sim, mas claro! Não é aquele violonista espanhol? Creio que o vi a executar o Concierto de Aranjuez.”. Pois é. No coments!

Pois bem. Confesso que conheço pouco desse violonista. O que sei é que ele já lançou vários discos, realmente conserva uma produção fonográfica abrangente. O excelente selo Naxos (como sempre) lançou alguns de seus muitos álbuns. Aliás, esse álbum que hoje vos trago faz parte de uma coleção lançada pela Naxos, intitulada: "The Spanish Guitar Collection". Dela fazem parte, truisticamente, o álbum que aqui deixo, o "Latin American Guitar Festival" e, por fim, um álbum que intitula-se, tão e somente, "Rodrigo".
Bom, trago-vos, então, um dos álbuns de tal coleção. E diga-se, um realmente bom. Afinal, desfilam pelo repertório temas como “samba de avião”, de Jobim, ícone da Bossa Nova. Ou, então, temas consagrados de nosso cancioneiro: Nesta Rua, Como pode o peixe (que, aliás, fica belíssima à voz de Milton Nascimento; muito embora a versão por ele cantada seja diferente), samba Lele (quem não conhece a letra de tal canção?). Como podem ver, trata-se de uma verdadeira obra de arte. Espero, pois, que os diletos e mais do que estimados amigos fruam tal álbum.

Eis o disclist:
01 Luis Bonfa - Manhã de Carnaval
02 Luis Bonfa - Passelo no Rio
03 Antonio Carlos Jobim – Wave
04 Antonio Carlos Jobim - Samba de Avião
05 Isaias Savio - Sonha IáIá
06 Isaias Savio – Batucada
07 Isaias Savio - Sonha de Magia
08 Isaias Savio - Po de Mico
09 Isaias Savio – Serões
10 Villa-Lobos - Prélude n°1
11 Villa-Lobos - Prélude n°2
12 Villa-Lobos - Prélude n°3
13 Villa-Lobos - Prélude n°4
14 Villa-Lobos - Prélude n°5
15 Villa-Lobos - Choro n°1
16 Villa-Lobos - Como pode o peixe
17 Villa-Lobos - Nesta Rua
18 Villa-Lobos - Samba Lele
19 Laurindo Almeida – Brazilliance
20 Baden-Powell - Retrato Brasiliero
21 Baden-Powell - Deve ser Amor
22 Baden Powell - Canto de Osanha
23 Celso Machado - Xaranga do Vovo
GERALD GARCIA - BRAZILIAN PORTRAIT

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quinta-feira, junho 14, 2007

Pavel Steidl - J. K. Mertz Bardenklänge Op 13


Olá, meus queridos e virtuais amigos. Perdoem esse fúfio ser que vos escreve. Não estou com muito tempo hábil disponível, pois o trabalho elide todo aquele que me sobra. Bem sabem como é, afinal, já foram (e serão eternos!) estudantes. Fim de semestre é uma correria: provas, trabalhos, correções infindáveis, conselhos, análises, enfim, quero crer que entendem do que estou a lhes falar. Bom. Como esse não é um blog destinado a pormenorizar a minha insípida existência, vamos falar de coisas mais interessantes.

Hoje vos trago um excelente álbum. Em verdade, o violonista é muito bom. Mas melhor ainda são as peças que ele executa – com uma destreza e um primor que são virtuosos, diga-se. Trata-se, meus caros, do violonista tcheco Pave Steidl a executar obras do estupendo e magnífico austríaco, Johann Kaspar Mertz. Devo dizer que esse compositor me é, absolutamente, uma predileção. Sou fã incondicional, como bem devem ter observado, do período Romântico da história da música. Creio ser aí que a música, especialmente para o nosso instrumento, alcançou a preexcelência e a liricidade que lhe deram a reputação que hoje ostenta. Talvez (e muito provavelmente!) eu esteja a me enganar. De qualquer forma, enquanto apreciador essa é a minha “escola” preferida.

Enfim. A obra que Steidl executa do expressivo Mertz é a famigerada Bardenklänge, que consta como 13º trabalho desse compositor. Bardenklänge, ao nosso idioma, significaria algo como “música dos bardos”. Oras, Homero nos ensina que bardo era aquele que, com o suporte da lira ou da harpa, recitava os poemas épicos. Já se vê, por aí, que a produção de Mertz era consonante com a sua “escola”, com o período Romântico. Analisando essa opus 13, de Mertz, por um viés menos “semanticista”, podemos perceber que se trata de uma verdadeira obra prima. Não que seja, no limite, aquela obra mais significativa de tudo o que o austríaco veio a produzir. Mas pode-se dizer que essa opus conserva todas as boas qualidades desse compositor. As peças são de uma multivocidade interessantíssima e denotadoras da superior qualidade de Mertz. As peças mais conhecidas dessa opus são, indubitavelmente, o Capricho (que está a 6ª faixa deste álbum) e a Liebeslied (15ª). Não me estenderei muito sobre a tal Op 13. Deixarei que a escutem e tirem suas conclusões. Contudo, alerto-lhes, desde já, que é algo surpreendente e extremamente belo.

Quanto ao violonista, infelizmente não conheço muito de seu trabalho. Conservo, em minha coleção de álbuns, apenas este que aqui vos trago e mais outros três. Não gosto de opinar sobre um violonista sem possuir um embasamento maior ou, ao menos, sem haver escutado muito de sua produção. Dessa forma, digo apenas que Steidl é um violonista muito competente, altamente expressivo, aparenta ter um alicerce absolutamente sólido, enfim, é um violonista primoroso e dedicado. Apenas sei que, aos idos de 2003, figurou ele entre os 8 maiores violonistas do globo – embora tal lista seja extremamente reducionista e relativa.

Bom. Deixo, pois, os ouvidos dos amados amigos a escutar essa formosa e esplêndida performance. Deixarei, também, algumas peças (pois não tenho todo esse trarbalho de Mertz) da Op 13. Quem sabe, assim, daqui a um pouco não vemos um de vocês a gravar tal sublime “Música dos Bardos”.

1. Variations mignonnes
2. An Malvina
3. Romance
4. Scherzo
5. An die Entfernte
6. Capriccio
7. Abendlied
8. Kindermärchen
9. Polonaise No. 5
10. Gondoliera
11. Romance
12. Mazurka
13. Sehnsucht
14. Polonaise No. 6
15. Liebslied
16. Tarantela
17. Lied ohne Worte
PAVEL STEIDL - J. K. MERTZ BARDENKLÄNGE OP 13

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terça-feira, junho 05, 2007

Alírio Diaz - 400 Years of Classical Guitar


Alírio Diaz. Quero crer que muitos dos diletos amigos conheçam esse preexcelente violonista. Bem. Se não tiveram a fausta oportunidade de agradar vossos ouvidos com tão mavioso som, eis aqui a oportunidade perfeita.

Bem me lembro que, há alguns anos, quando ainda eu me iniciava nas intrincada arte das seis cordas, uma querida saudosa professora sempre elogiava muito o trabalho de um violonista, o qual ela considerava “um dos melhores que já existiu”. Sempre duvidei dessas assertivas superlativas, do tipo: “ele é o melhor” ou “aquele é o pior”. Mas, aí, a dita professora emprestou-me um LP do tal violonista, a fim de que eu apreciasse melhor a sua técnica. Logo na primeira audição fiquei, com o perdão da expressão, embasbacado! A técnica era magnífica. O toque delicado, suave, descomplicado. As interpretações emanavam um conhecimento profundo e uma aguda percepção da peça. E o nome de tal violonista, vejam só que coincidência (hehe), era Alírio Diaz.

Trata-se, meus estimados e prezados amigos, de um violonista Sul-Americano, ou mais precisamente, Venezuelano. Diaz veio à luz nos idos de 1923, em uma pequena cidade interiorana da Venezuela. Dizem que, desde infante, Diaz mostrava um entrosamento extraordinário com o instrumento, executando inúmeras músicas apenas recorrendo ao ouvido. Apresentou-se durante certo tempo com peças de cunho folclórico – as quais deram-no certa popularidade em seu país. Quando já homem, Diaz foi para Madri a fim de estudar no grande Conservatório de Madri. Aí estudou com Regino Sainz de la Maza – um prolífico e primoroso compositor espanhol. Após alguns anos foi freqüentar alguns cursos em Siena, na Itália, com ninguém menos que Segóvia. Diaz saiu-se tão bem em tais seminários que Segóvia o escolheu para ser o seu assistente. Nem é preciso dizer que, a partir desse ponto, a carreira internacional do grande Alirío Diaz alçou vôo.

Nas inúmeras apresentações que Alírio Diaz fez, nos mais variados cantos de nosso globo, o superior violonista impressionava a audiência com o seu virtuosismo nato e a sua capacidade de executar as obras de forma aparentemente descomplicada. Ademais, a sua formação enquanto instrumentista apenas o favorecia e suas interpretações eram aclamadíssimas. É interessante notar que Diaz conservava em seu repertório um sem número de peças. Hão de convir com esse que vos escreve que manter um repertório em um nível, digamos, “profissional” é algo dificílimo. Ainda mais quando tal repertório conserva uma imensa quantidade obras. Quero crer que isso denote, já, o grande e preexcelente violonista que foi Diaz.

Eis aqui um excerto de Zanon sobre o mirífico violonista: “Eu costumo chamar Alírio Díaz de violonista-champanhe: tudo o que ele toca é direto, franco e espouca com um caráter alegre, dançante e celebratório, que é particularmente adequado para o repertório latino-americano e espanhol”.
Depois dessa brilhante análise, que partiu de um fascinante violonista, sou obrigado a deixar aqui o disclist do álbum e o link.
Ei-los:

01 Tarrega Recuerdos de la Alhambra
02 Lauro Dos Valses Venezolanos - Uno
03 Lauro Dos Valses Venezolanos - Dos
04 Sojo Guaso
05 Sojo Cancion
06 Sojo Quirpa
07 Albeniz Asturias
08 Anonimo Dos Canciones Populares Catalanas - Uno
09 Anonimo Dos Canciones Populares Catalanas - Dos
10 Haydn Minuet
11 Sanz Pavana
12 Sanz Folia
13 Scarlatti Sonata
14 Bach Gavota (from Suite for Violin Solo)
15 Bach Fugue (from Suite for Violin Solo)
16 Sor Variations on a Theme from Mozart

ALÍRIO DIAZ - 400 YEARS OF CLASSICAL GUITAR

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