É com muito júbilo e álecre sorriso que venho até meus nobilíssimos e estimados amigos, disponibilizar-lhes os famigerados 4 cadernos de Abel Carlevaro. Pois é. Após muitas e incontáveis dificuldades, conseguimos achar pela net tais cadernos e agora, com a ajuda de alguns amigos, trago-os até vós. Contudo, não posso antes deixar de citar aqui os nomes de tão insignes e agudos seres, que preocupam-se tanto quanto esse que vos fala em ajudar a difundir a escola erudita do violão: o eminente Jorge Olmar, o grande e agudo “Chiquinho” e a absolutamente deífica Laeticia Maris.
Pois bem. Abel Carlevaro tem, para o violão erudito, uma importância desmesurada. Afinal, foi ele que, observando as técnicas do grande mestre Segóvia, desenvolveu toda uma metodologia de ensino e um tão apurado e arguto senso didático que, atualmente, a imensa maioria dos violonistas ao redor do globo segue. Em verdade, a técnica de Carlevaro, bem como suas assertivas sobre a parte mecânica do instrumento e sobre postura e toda a parte fisiológica do instrumentista, são de tal sagacidade que, arrisco-me a dizer, todo bom violonista que queira e almeje desenvolver-se no instrumento, deve estudá-lo.
Esses cadernos são, em verdade, um complemento prático à toda a teoria exposta no interessantíssimo e indispensável livro: “Escuela de la Guitarra - Exposición de la Teoria Instrumental”. Levo-me a crer que, mais importante e imprescindível do que tais cadernos é esse livro. Afinal, toda a teoria, toda a, por assim dizer, “escola carlevariana” está lá condensada.
Disse mais acima que Carlevaro, na qualidade de aluno do grande Segóvia, aspergiu algo da técnica desse magnífico violonista e, assim, desenvolveu sua “escola”. Para não correr o risco de ser reducionista, tampouco levar puxões de orelhas de professores que porventura possam estar a ler isto, digo o seguinte: Segóvia, como todos sabemos, não foi um professor no sentido lato, afinal, era ele um autodidata. Toda a sua técnica proveio de uma aguda intuição aliada à percepção inteligente da sonoridade do violão juntamente com um trabalho muito disciplinado e objetivo. Durante a guerra civil que acometeu a Espanha no início do século passado, Segóvia veio a refugiar-se no Uruguai, terra do bom Carlevaro. Aí, Abel (perdoem-me a intimidade, hehe) que não era bobo nem nada, foi ter com Segóvia, a fim de apreender alguns de seus infinitos bons apanágios. Carlevaro observou cada movimento de ambas as mãos, do “bom velho”, bem como sua postura. Reformulou, então, e realizou experiências em si mesmo até encontrar seu ponto de equilíbrio entre movimentação e música. Assim é que nasce a “escola Carlevariana”.
Cada gesto tem um significado musical dentro de um relaxamento controlado, o que proporciona uma economia de energia com um maior resultado e, truisticamente, um menor esforço. O ato de tocar é tal qual um balé: a arquitetura de todos os movimentos pré-elaborados, formando um plano perfeito que é absorvido pela memória muscular. Carlevaro nos legou sua preexcelente técnica e ao usá-la percorremos um caminho menor para um determinado resultado. Tal qual Tárrega, ele nos legou seu método e composições que fazem, obrigatoriamente, parte da pedagogia atual para o violão. A grande e desmedida contribuição de Carlevaro para a escola violonística, mais especificamente em sua técnica, foi incutir a idéia nos alunos, professores e violonistas que o trabalho de técnica deve deixar de ser um trabalho de repetição para ser um de reflexão.
Enfim. Quero crer que já me estendi demasiadamente. Procurem o bom livro: “Escuela de la Guitarra - Exposición de la Teoria Instrumental”. Vale ainda mais à pena do que tais cadernos.
E atentem para o fato de que não se deve estudar sozinho tais cadernos, pois, senão, não surtirão efeito algum. Afinal, eles não foram elaborados para que se faça um simples trabalho de repetição, mas sim, para que, juntamente com o seu professor, possas chegar no âmago de suas dificuldades técnicas, podendo entendê-las e superá-las. Por isso a imprescindibilidade de um mestre: somente ele poderá ver em que aspectos têm mais dificuldades e lhe indicar os melhores caminhos.
Dêem uma olhada
aqui, para um breve arrazoado sobre Carlevaro.
Eis os cadernos: